Diogo, Notícias Magazine, 24/2/08
Com 14 anos posso fazer mais coisas do que quando tinha dez, mas também tenho mais obrigações e mais deveres, há outras exigências […]. Se as notas baixam, deixo logo de poder fazer certas coisas. A minha mãe quer que eu chegue a casa às cinco e se eu chego às cinco e meia faz logo um filme enorme e diz-me que nunca mais me deixa sair. Não sei de que é que ela tem medo… Deve pensar que eu ainda sou uma criancinha pequena. Quando era pequeno, era exactamente o contrário, “ah e tal já és crescido…”. Em que é que ficamos?
Stéphane Ikor, 15 anos, Notícias Magazine, 24/2/2008
Quando era criança parece-me que pensava muito menos, estava demasiado ocupado com outras coisas, a brincar, por exemplo. E, não me zangava tanto com o meu irmão. Nem com os meus pais ou os outros adultos. Às vezes parece-me que [os adultos] nos consideram como uma generalidade… como se para eles, depois dos 13 anos, fossemos todos iguais. Outra coisa que me irrita nos adultos é aquela coisa de estarem sempre a dar-nos a entender que sabem perfeitamente como nos sentimos porque já passaram por isso. Fazem-nos sentir iguais a toda a gente e isso é um pouco irritante. Sim, há muitos clichés em relação à adolescência.
Análise das exposições destes dois jovens acerca das suas vivências adolescentes
Análise das exposições destes dois jovens acerca das suas vivências adolescentes
A adolescência é efectivamente um período caracterizado por complexas modificações. A par com o desenvolvimento físico ocorre o aperfeiçoamento cognitivo, psicossocial, psicossexual e moral, com a respectiva construção de valores. Responsabilidade é a palavra de ordem nas primeiras afirmações do Diogo. Se por um lado, o adolescente se torna mais responsável, permitindo-lhe ter um pouco mais de liberdade e autonomia, por outro, essa responsabilidade deve também balizar as suas escolhas e estar presente nos momentos de ponderação.
Na exposição deste primeiro jovem, o Diogo, são evidenciados aspectos mais intimamente relacionados com o desenvolvimento moral. Nesta fase de constante questionamento, a descoberta da identidade individual conduz a uma reestruturação da panóplia de valores que caracterizam o adolescente (Tavares, Pereira, Gomes, Monteiro, & Gomes, 2007). De facto, o jovem confronta os seus próprios valores com os valores do “mundo adulto”, com o fim último de conquistar a tão desejada autonomia. Para tal, pondera sobre regras e convenções sociais, que se por vezes são acatadas pelo adolescente, outras vezes são fruto de desobediência (Kohlberg, 1981 cit. por Sousa, 2006).
A afirmação “Se as notas baixam, deixo logo de poder fazer certas coisas” remete-nos para uma característica peculiar do pensamento adolescente, a maior capacidade para pensar acerca das possibilidades, através de hipóteses, antecipando determinadas consequências. Este processo é mediado pela reflexão do jovem acerca dos seus próprios pensamentos e pela apreciação da situação tendo em conta a perspectiva dos outros.
Na exposição da segunda jovem, Stéphane Ikor, são patentes aspectos mais direccionados para o desenvolvimento cognitivo. Segundo Piaget (1976), entre os 13 e os 16 anos assiste-se ao processo pelo qual o pensamento operatório e concreto transita para um pensamento formal e abstracto. Tal como é referido pela Stéphane “Quando era criança parece-me que pensava muito menos…”, o pensamento que outrora era infantil, limitado ao “aqui e agora”, destaca-se do pensamento adolescente, uma vez que este último reflecte um maior grau de complexidade, abstracção e flexibilidade mental.
A afirmação “E, não me zangava tanto com o meu irmão. Nem com os meus pais ou os outros adultos” remete-nos para um aspecto muito peculiar da adolescência, o conflito constante entre o jovem e as pessoas que lhe são mais próximas, nomeadamente os pais e os irmãos. De certo modo, o adolescente sente-se incompreendido, o que espoleta revolta por parte do mesmo.
O diálogo entre gerações distintas torna-se por vezes complicado e o acompanhamento que os pais tendem a manter em relação ao comportamento dos seus filhos é muitas vezes visto por estes últimos como uma forma de cessação da liberdade. De qualquer modo, o grupo considera que este “conflito” é essencial para a maturação do adolescente, uma vez que ao pactuar ou não com os comportamentos do filho, estão a proporcionar-lhe um meio para a construção dos próprios valores, que muitas vezes são adquiridos com base na divergência.
Recomendamos vivamente a visualização deste vídeo, este ilustra, efectivamente, os conceitos em análise nas exposições dos dois jovens! É um pertinente complemento da nossa reflexão. O aspecto crucial da construção da identidade no adolescente, bem como o conflito com as gerações ascendentes são foco de atenção por parte deste vídeo! Concomitantemente é também abordada a temática das diferenças individuais na adolescência!
Vídeo Ilustrativo
Recomendamos vivamente a visualização deste vídeo, este ilustra, efectivamente, os conceitos em análise nas exposições dos dois jovens! É um pertinente complemento da nossa reflexão. O aspecto crucial da construção da identidade no adolescente, bem como o conflito com as gerações ascendentes são foco de atenção por parte deste vídeo! Concomitantemente é também abordada a temática das diferenças individuais na adolescência!
Referências bibliográficas:
http://www.youtube.com/watch?v=O2OoBnpGe8g , consultado a 03/06/11
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